Clube do Filme 2: O Grande Lebowski

    O Grande Lebowski (1998) é um dos mais populares filmes dos irmão Coen, e o seu impacto na cultura pop pode sentido até os dias de hoje. A filosofia relaxada de "The Dude" claramente ressoou com universitários americanos, e a sua contribuição para o processo de desestigmatização e  legalização da Cannabis nos Estado Unidos também não pode ser menosprezada. Apesar de todas essas dimensões certamente instigarem conversas, esta crítica buscará avaliar o filme somente pelos seus méritos cinematográficos

Roteiro

    A narrativa segue Jeff "The Dude" Lebowski, um desempregado vivendo uma vida fácil de maconha, bebidas e boliche nos arredores de Los Angeles. Nada disso muda quando ele é acidentalmente envolvido em um conspiração, ao ser confundido com o seu xará O Grande Lebowski, um rico empresário, cuja esposa deve dinheiro a alguém. Assim, o Grande Lebowski contrata The Dude para fazer o pagamento da dívida, que não corre como previsto por causa da interferência de Walter.

    Objetivamente, a história é altamente complicada e complexa, mas a filosofia relaxada e pouco comprometida do protagonista torna o material muito mais digestível. O filme claramente é uma forma de pastiche do gênero film-noir. Os próprios diretores comentaram que o conceito se originou na ideia de um detetive clássico do gênero, que substitui o cigarro por um baseado. Assim, os irmãos Coen inteligentemente comentam e fazem piadas sobre o arquétipo do detetive resmungão e mal humorado.

Composição Visual

    A parceria dos irmãos Coen com Roger Deakins sempre entrega resultados fantásticos e em O Grande Lebowski eles continuam acertando. Todavia, no geral, o filme é relativamente conservador quanto à sua coloração visual. A sequência 'Gutterballs' é onde o filme se arrisca mais, e executa excelentemente um conceito muito etéreo. A coloração e iluminação no filme certamente é competente, mas onde o destaque surge é em termos da composição é a maneira como Deakins monta os seus frames.

Trilha Sonora


    Considerando o quão densos e detalhistas os filmes dos irmão Coen são, é notório o quão pouco a trilha sonora se destaca. Não existem momentos particularmente memoráveis que envolvam a trilha sonora original. Todavia, é feito o uso de músicas populares em algumas cenas icônicas, particularmente a música 'The Man In Me' de Bob Dylan, na sequência de créditos no início e quando The Dude voa sobre Los Angeles em seu sonho.

Performances


    Dizer que as performances nesse filme são geniais não faria jus a todos os momentos e nuances hilárias nesta obra-prima. Na mesma medida, seria impossível discutir todos os momentos brilhantes sem recontar o filme inteiro. Então nessa sessão serão somente trazidos alguns destaques mais marcantes. A transformação de Jeff Bridges neste filme é absolutamente icônica. Desde o momento em que ele aparece pela primeira vez no filme, comprando leite no supermercado, o público sabe exatamente quem é o protagonista da história. A conduta relaxa de Lebowski contrasta perfeitamente com a paranoia frenética de Walter, vivido no filme por John Goodman.

Temas


    Buscar decifrar o significado do filme parece um pouco contra intuitivo à filosofia do protagonista,  que faz o espectador ter vontade de ser passivo e simplesmente consumi-lo ao invés de decifrá-lo. É esse instinto que também contribui à qualidade do filme em ser constantemente reassistido, e a minúcia com a qual a obra é composta recompensa toda vez que O Grande Lebowski é revisitado. Assim, pode-se começar a analisar as temáticas exploradas pelo filme na dimensão de crítica meta-narrativa do gênero noir.
    Film noir, tradicionalmente, segue um detetive particular navegando um submundo criminoso, buscando resolver um mistério. A estética tem a sua origem nos filmes em preto e branco, com alto contraste de luz e escuridão, acentuados por silhuetas, chapéus e fumaça de cigarro. A tranquilidade de Lebowski contrasta com a natureza inquisitiva do arquétipo do detetive particular, e o mistério constantemente busca o protagonista no filme, e não o protagonista o mistério. Todavia, a paranoia de Walter é essencial para manter a tensão e não estagnar a narrativa.
    Uma das dimensões mais interessantes da exploração temática é o fato de os principais antagonista serem niilistas alemães. O nojo com os aspectos mais sombrios e feios da humanidade basicamente resume a filosofia clássica noir, e ao ridicularizar niilistas o filme inteiro, os irmãos Coen tentam apontar o quão ridícula é a seriedade com a qual diretores, roteiristas, atores e críticos abordam a arte cinematográfica, sem nunca se tornar superficial ou demonstrar aversão à humanidade.

Veredito


    Avaliar O Grande Lebowski como qualquer outra coisa que não seja uma obra-prima seria essencialmente chato. Existe um pretenciosismo autocrítico que permeia cada segundo do filme, contrastando a  minúcia dos irmãos Coen com a falta de interesse de Lebowski. Aspectos como a trilha sonora e cinematografia são bem executados mas relativamente simples, sem distrair da narrativa e personagens complexas. Essa realidade traz uma imersão na história que é rara no complexo cinematográfico industrial.

⭐⭐⭐⭐⭐

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