Crítica: Bloodshot (2020)


    Bloodshot (2020) é uma adaptação de um série de quadrinhos do mesmo nome, publicada pela Valiant Comics pela primeira vez em 1992. Infelizmente eu ainda não tive a oportunidade de ler a série, então essa crítica se embasara puramente nos méritos do filme. Neste sentido a avaliação não levará em conta aspectos como inventividade e criatividade na adaptação, atribuindo muitos dos méritos diretamente ao filme, sem considerar os conceitos inovativos trazidos pela obra original.

Roteiro

    O filme segue Ray Garrison, um soldado americano que tem a sua esposa assassinada na sua frente após retornar de uma missão. Após tomar um tiro do assassino, o seu corpo é doado ao laboratório Rising Spirit Tech (RST) onde ele tem nano robôs inseridos em sua corrente sanguínea. Com essa tecnologia Ray recebe uma série de poderes especiais, e vai atrás do assassino em busca de vingança. Quando ele retorna ao laboratório para dormir e reinicializar os nano robôs, nós descobrimos que toda vez que ele volta ao laboratório a sua memória é alterada para ele exercer a sua vingança em um outro alvo. Com a ajuda de KT, outro projeto do laboratório, e Wilfred Wigans, um hacker, ele se liberta do controle da RST e vai atrás de vingança contra a instituição. A revelação no meio do filme verdadeiramente me surpreendeu. Todavia, existe uma deficiência narrativa em termos do engajamento com o relacionamento de Ray e a sua esposa. Considerando que uma parcela considerável do drama e das consequências dos pontos narrativos é dependente da efetividade do engajamento com o relacionamento, a história realmente é negativamente afetada pela superficialidade desta dimensão.

Composição Visual


    O filme como um todo não demonstra grandes pretensões de se destacar visualmente nas sua partes mais lentas, mas busca se destacar em suas sequências de ação. Neste sentido são feitas escolhas extremamente interessantes quanto à iluminação nestes momentos. Todavia, a ação não é particularmente bem demonstrada, caindo na frequente falácia do uso de uma câmera muito trêmula e desorientadora. Além disso, os efeitos especiais medíocres destilam a tensão nestas cenas, e a catarse perde gravitas.

Trilha Sonora

    Naquilo que se trata da trilha sonora, as composições não são particularmente memoráveis. Em momentos dentro do laboratório se assemelha a forma como Tony Scott faz uso da música, buscando intensificar a dramatização de simples diálogo. A aplicação dessa técnica possui uma qualidade interessante, onde, se utilizada corretamente, pode maximizar performances medíocres, mas se for mal utilizada ela pode tirar o espectador da história. Um dos clichês aplicados a muitos filmes de ação da atualidade é o uso de músicas populares. Bloodshot certamente se encaixa nesta tendência com a forma como utiliza a música Psycho Killer. O filme até chega a apresentar uma meta-explicação do clichê dentro da história, mas não torna a trilha sonora particularmente memorável.

Performances


    Bloodshot certamente não é uma tour de force em termos de atuação, mas ninguém espera que Vin Diesel se torne um candidato ao Oscar do dia para a noite. Porém, existem certos parâmetros e expectativas que se espera em um filme de ação aos quais ele não exatamente corresponde. Ele não demonstra a fisicalidade necessária para elevar as cenas de ação, ou a profundidade emocional para evocar veracidade no miolo dramático do seu relacionamento com a sua esposa. Quanto ao resto do elenco ninguém se destaca particularmente em um sentido positivo ou negativo, mas entregam performances complementares satisfatórias.

Temas


    A ideia da desconstrução das histórias de origem de super-heróis é bastante interessante, e abordada de uma maneira peculiar no filme. Bloodshot replica de maneira superficial uma história de origem genérica, que assistimos dezenas de vezes ao longo dos últimos anos. Porém, o filme comenta na artificialidade desse tipo de narrativa com o twist no meio do filme, insinuando que estúdios invocam emoções do público para os seus próprios fins. Apesar de ser um conceito interessante, Bloodshot não apresenta a nuance para fazer esse tipo de crítica com a pontualidade necessária, aparentando ser uma reclamação genérica sobre como a indústria explora emoções para lucrar, enquanto o filme em si é culpado desse mesmo pecado.

Veredito

    Bloodshot é mais um na sequência de filmes de ação que entretém mas se perde em meio a narrativas complicadas e cenas de ação confusas. Vin Diesel e o resto do elenco trazem carisma às performances, mas penam em termos do gravitas dramático necessário para engajar em um nível emocional. Algumas das ideias apresentadas até demonstram maiores ambições, mas não acerta o alvo na execução.
⭐⭐✰✰

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